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01/11/2021 às 08h12min - Atualizada em 01/11/2021 às 08h12min

Crime cometido por falso policial revela conexões promíscuas entre ele e policiais civis e militares

Cauê Doretto, que assassinou três PMS e morreu na troca de tiros, andava em viaturas oficiais e chegou até a dar plantão em delegacia. Carteira funcional falsa foi negociada por investigador.

Por G1
Em primeiro plano num carro da PM, o tenente Everton Rodrigues Datti; ao fundo, segurando uma arma, o falso policial Cauê Doretto — Foto: Reprodução

Distintivo, armas, algemas, treinamento de tiros usando roupas da Polícia Civil... Era assim que Cauê Doretto de Assis se apresentava para os amigos, e até para quem nunca tinha visto na vida.
 

“Esses indícios demonstram que o Cauê efetivamente era um policial. Os pais do Cauê acreditavam veementemente que ele era um policial. Não era uma fantasia”, diz Adriano Kawasaki, advogado de Vitor Mendonça Ferreira, amigo de Cauê.


Mas essa era uma vida de mentira. Cauê não era policial, e a carteira funcional que ele usava era falsa. A vida de mentira terminou na madrugada do dia 8 de agosto de 2020, na Zona Oeste de São Paulo, onde Cauê e um amigo foram abordados por três policiais militares da Força Tática.

Cauê desceu do carro e se apresentou como policial. Quando um dos PMs foi checar a veracidade do documento, ele começou a atirar. A abordagem terminou com três policiais militares mortos: os soldados Celso Ferreira de Meneses Junior e Victor Rodrigues Pinto da Silva, e o sargento José Valdir de Oliveira Junior. Eles faziam seu trabalho naquela madrugada, mas não voltaram para casa.

 

“Na hora em que o policial pediu a arma, ele se exaltou, falou ‘Ah, por que que você está fazendo isso? Por que você está me abordando desse jeito?’, aí o policial falou ‘Estou fazendo meu serviço’”, contou o analista de vendas Vitor Mendonça Ferreira, amigo de Cauê. “Ele olhou para mim, disse ‘Vitinho, azedou’, sacou a arma, atirou no policial aqui e foi até a viatura. Aí começou a troca de tiros intensa, e e eu já estava correndo.”

 

Na troca de tiros, o falso policial Cauê também foi atingido e morreu. Vitor escapou e testemunhou o crime. Ele também acreditava que o amigo era policial civil. A farsa encenada por Cauê veio à tona durante a investigação sobre as mortes dos três policiais militares.

O crime revelou conexões promíscuas entre o falso policial e policiais civis e militares. Cauê andava em viaturas oficiais e chegou até a dar plantão em delegacia. O Fantástico teve acesso com exclusividade às mensagens que revelam essas relações, extraídas do celular de Cauê com autorização da Justiça.

E a Polícia Civil concluiu que Daniel Bortolote Teixeira, investigador de polícia, negociou armas, deu aulas de tiro a Cauê e intermediou a venda da carteira funcional fraudulenta para o falso policial. Como indica uma troca de mensagens entre os dois no dia 5 de dezembro de 2017.


Daniel: Cauê...

Daniel: O cara daquele papel que você queria me ligou hoje. Disse que está fazendo uma para um cara e perguntou se eu ia querer.

Daniel: Você ainda tem interesse?

Daniel: Ele falou que chega nos 15.

Cauê: Tenho.

Cauê: Pago em 3x.

Daniel: Você tem que tirar uma foto de terno.

Daniel: Foto 3x4 de terno.

Daniel: Consegue para já, já.

 

No mesmo dia, Cauê transferiu R$ 5 mil para Daniel e enviou o comprovante. A investigação também encontrou diversas outras transferências do falso policial para o investigador da Polícia Civil. Num único dia, foram R$ 40 mil.

As conversas também revelam que Cauê combinava abordagens com outros policiais civis. Em julho de 2019, ele disse que estava precisando de dinheiro.

Cauê também tinha conexões com policiais militares. Uma foto mostra o falso policial segurando um revólver dentro de uma viatura da PM, segundo a investigação. O homem em primeiro plano na imagem é o tenente Everton Rodrigues Datti, com quem o Fantástico falou por telefone.

 

A defesa de Daniel Teixeira diz que "ele não tinha contato com Cauê quase dois anos antes” das mortes no tiroteio; e que “a funcional transacionada era de agente de segurança privada, e a arma utilizada no crime não foi por ele comercializada”.

As aventuras do falso policial deixaram uma marca eterna nas famílias dos policiais militares assassinados. Ana Carolina era casada com o soldado Victor, e o filho deles, hoje com 1 aninho, nasceu três dias depois da morte do pai.

Em 2018, Cauê Doretto de Assis já incomodava outros policiais com seu comportamento. Um deles parecia imaginar a tragédia que viria pela frente quando mandou uma mensagem.

 

“Olha, eu fico preocupado, porque acho que o tenente Datti te deu uma asa, mano, que a gente não vai conseguir podar agora. Porque está um tal de ‘comandante Doretto’, ‘capitão Doretto’. Acho que criamos um monstro.”

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