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Zezito Guedes e a Formação Cultural de Arapiraca: Legado, Memória e a Construção de uma Geração

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A cultura de Arapiraca carrega marcas profundas deixadas por grandes mestres que dedicaram suas vidas à preservação da memória e à construção de uma identidade coletiva. Entre esses nomes, poucos alcançaram a importância e a influência de Zezito Guedes, artista, poeta, folclorista, escultor, historiador, pesquisador e uma das vozes mais significativas da trajetória cultural da cidade. Sua partida deixa um vazio imenso, mas também revela a dimensão de seu legado, que permanece vivo na obra, na história registrada e, sobretudo, nas pessoas que ajudou a formar ao longo de décadas.

Zezito Guedes transformou seu atelier em um espaço de aprendizagem permanente. Cercado por telas, tintas, esculturas de pedra, madeira e ferro, livros e registros históricos, o ambiente não era apenas um local de criação artística, mas um ponto de encontro de gerações. Jovens iniciantes, artistas maduros, mestres já consagrados e curiosos da cultura local conviviam naquele território criativo, onde conversas profundas sobre arte, política, identidade, memória e passado se tornavam parte do processo de formação de todos que ali circulavam. Arapiraca encontrou ali não apenas um espaço físico, mas um centro simbólico de desenvolvimento cultural.

Foi nesse ambiente vivo que muitos artistas e agentes culturais se constituíram. É também ali que se insere minha própria trajetória enquanto fazedor cultural. Minha formação como ator, escritor, articulador de projetos e gestor público está diretamente entrelaçada às vivências naquele atelier. As conversas que tive com Zezito e com aqueles que por ali passaram me ensinaram que a cultura é mais que expressão: é responsabilidade, é memória, é o compromisso com aquilo que a cidade representa e com aquilo que ela quer preservar para as futuras gerações. Cada diálogo, cada escultura observada, cada livro folheado e cada orientação recebida moldaram minha visão sobre o papel da cultura na vida de um povo.

Entre suas contribuições mais marcantes está o livro Arapiraca Através dos Tempos, obra essencial para quem estuda a história do município. O livro se tornou referência para pesquisadores, professores, historiadores e para todos que buscam compreender o surgimento, o desenvolvimento e as transformações da cidade ao longo dos anos. Nele, Zezito não apenas registra fatos; ele interpreta a alma de Arapiraca, resgatando a força da cultura do fumo, as cantigas populares, o cotidiano das feiras livres e a construção social que fez Arapiraca superar limites e se reconhecer como a maior cidade do interior de Alagoas.

A influência de Zezito também pode ser percebida no fortalecimento das instituições culturais da cidade, no movimento artístico que floresceu no entorno de sua figura e no reconhecimento formal que recebeu ao longo de sua trajetória. Sua nomeação como Patrimônio Vivo da Cultura Alagoana evidencia o valor de seu trabalho e confirma sua posição como um dos pilares da identidade cultural arapiraquense.

Hoje, ao olhar para minha atuação na gestão cultural, percebo que muito do que faço carrega a marca desse aprendizado. Cada projeto executado, cada incentivo a novos talentos, cada ação voltada à preservação da memória arapiraquense e cada esforço para manter viva a identidade da cidade está conectado à herança deixada por Zezito Guedes. Minha gratidão é pública e permanente, assim como meu compromisso de honrar esse legado em todas as responsabilidades que assumo dentro da cultura de Arapiraca.

Zezito Guedes permanece vivo na história, nas obras, nos estudantes que bebem de sua fonte e nos agentes culturais que continuam sua missão. Seu legado não é apenas artístico, mas profundamente humano e educativo. Ele ensinou Arapiraca a respeitar sua própria história e a compreender que cultura é alicerce, é caminho e é futuro.

Celebrar Zezito Guedes é reconhecer a força da memória e reafirmar a importância de proteger e valorizar a cultura local. É entender que Arapiraca só chegou onde está porque teve mestres como ele, capazes de transformar arte em vida e vida em história.

Viva Zezito Guedes, viva seu legado, viva a cultura de Arapiraca que segue pulsando graças aos que construíram e aos que continuam a construir a história desta cidade guerreira.

Por Aermerson Barros do Nascimento

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