As denúncias começaram ainda no mês de maio. Uma das vítimas, hoje maior de idade, procurou a Polícia Civil para relatar o que teria acontecido no ano de 2017, quando tinha 15 anos.
— Ele me levou para casa dele e lá começou a passar a mão em mim. Eu não tinha malícia na época, porque tinha muita confiança nele. Era uma pessoa muito persuasiva e acabou abusando de mim. Eu não tava entendendo direito essa situação. Foi a minha primeira vez — relatou.
Outro ex-atleta, hoje maior de idade, descreveu situação semelhante.
— Ele foi comigo até um restaurante, comprou bebida alcoólica e forçadamente ficava insistindo para que eu tomasse mesmo eu não querendo. Ele insistiu e eu acabei cedendo. Eu estava completamente bêbado e quando a gente foi para o carro achei que a gente ia para Casa Atleta dormir, no outro dia treinar, só que aí ele tomou um rumo diferente. Ele foi para o motel. Só que eu só tenho um flash de memória, não tenho memória completa por conta de estar muito, muito bêbado. Não consegui resistir fisicamente. Ele só me levou para tomar um banho, me botou na cama pelado e me estuprou.
O pai de um atleta conta que ouviu boatos sobre casos mais antigos e decidiu se aproximar dos adolescentes. Em pouco tempo, descobriu mais relatos em que menores de idade, já de outra geração, também foram abusados por André Testa.
Um dos abusos teria ocorrido em uma "Casa Atleta", usada para abrigar jovens de outras cidades e estados.
— A gente fica chocado, revoltado, porque uma pessoa que está na frente de um projeto que atende crianças, que às vezes tem crianças carentes, que tem problemas sociais de família e busca no esporte algo para descontrair, para ser algo prazeroso e ter um acontecimento desse. A gente fica chocado — desabafou o pai.
Em um trecho de uma conversa por mensagem entre duas vítimas adolescentes, uma delas diz que não denunciou o treinador para não dar problema para o time e não destruir o sonho dos outros jovens.
Ele é bem conhecido no meio esportivo catarinense e brasileiro. Inclusive, foi árbitro de linha de voleibol nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
Testa foi preso nesta quinta pela equipe da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de São José, encaminhado ao sistema penitenciário e seguirá à disposição da Justiça.
Prefeitura de São José
Procurada, a prefeitura disse que já tinha afastado preventivamente o treinador de todas as atividades quando soube das denúncias. Confira a íntegra do texto:
"A Fundação Municipal de Esportes e Lazer – FUNESJ informa que:
1- Em maio deste ano a Superintendência da FUNESJ tomou conhecimento informalmente do Boletim de Ocorrência registrado sob o nº 0421157/2022-BO- 00526.2022.0001609 junto a Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de São José, feito por um atleta que foi atendido em anos anteriores por um dos projetos, e que os fatos apresentados à autoridade policial tratavam de um “possível estupro” praticado por um dos técnicos da modalidade de voleibol.
2- A par de parte dos fatos, uma vez que as investigações correm em segredo de justiça, e após solicitar à Procuradoria Geral do Município orientações sobre as providências a serem tomadas, a FUNESJ acatou as recomendações da PGM e buscou notificar imediatamente os responsáveis técnicos pelo projeto Voleibol do Futuro e o professor foi afastado."
Associação Terra Firme
A Associação Terra Firme afirmou que não concorda com esse tipo de situação, nenhum tipo de assédio, físico, moral ou sexual, e que prontamente afastou o professor para que as investigações fossem feitas sem qualquer interferência junto aos jogadores.
Confederação Brasileira de Vôlei
Já a Confederação Brasileira de Volêi enviou nota dizendo que, diante das denúncias recebidas, determinou à Federação Catarinense de Voleibol o afastamento imediato de André Testa de suas funções, além de suspender seu registro na entidade, até que os fatos sejam devidamente apurados.
A CBV reitera que repudia qualquer tipo de assédio e trabalha de forma incessante por um ambiente pautado pela ética e pelo respeito, e livre de qualquer tipo de violência ou preconceito.
Federação Catarinense de Vôlei
A FCV não vai se manifestar no momento pois desconhece os fatos e em nenhum momento recebeu nenhum tipo de denúncia de quem quer que seja: "Esperamos que tudo seja esclarecido pelas autoridades competentes na forma da lei".
*Rafael Faraco e Juan Todescatt são jornalistas na NSC.