Uma interna da clínica onde 33 mulheres eram mantidas aprisionadas em celas, em Crato, no Sul do Ceará, denunciou a situação no local por meio de um bilhete. A vítima entregou a uma de suas irmãs uma mensagem, há cerca de duas semanas, em que pedia socorro e dizia estar sendo violentada.
A Polícia Civil foi ao local na manhã desta quinta-feira (12) para prender o diretor da clínica de repouso por crime sexual e encontrou as mulheres em condições sub-humanas. O diretor, Fábio Luna dos Santos, 35, está preso na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) por crime sexual contra duas vítimas e também foi autuado em flagrante por cárcere privado e maus-tratos, além de ser suspeito de desviar o dinheiro das internas.
A defesa de Santos não foi localizada. A clínica está em funcionamento, conforme a Polícia Civil, desde 2015.
A titular da DDM na cidade, Camila Brito, responsável pela investigação, disse que uma das mulheres pediu ao diretor da clínica para falar com a irmã e entregou o bilhete, secretamente. Familiares da vítima mostraram o bilhete à delegada e, a partir dele, as investigações começaram. O local abrigava idosas e internas com problemas psiquiátricos, que tinham entre 30 e 90 anos de idade.
""Diga à *** [irmã da vítima] que estou sofrendo abuso sexual. Manda ela vir me tirar. Manda ela fingir que não tenho nada. Para mim poder sair . Sou eu e minha amiga que 'está ' sofrendo. Urgente. Me tire daqui. Manda ela pegar o dinheiro. Depois eu pago a ela, vem logo por favor ", escreveu a mulher mantida em cárcere e violentada em clínica.
"De imediato, nós orientamos que essas irmãs retirassem a vítima dessa casa, porque são familiares, então têm todo o direito de tirar a irmã de lá", afirmou a delegada. Após a saída da mulher da clínica, ela prestou depoimento, o qual foi importante para que a Polícia Civil pedisse a prisão preventiva de Fábio Luna.
Segundo a delegada, a vítima não sofreu conjunções carnais, mas atos libidinosos, que também são configurados como crimes sexuais, quando não são permitidos pela vítima. Com o depoimento em mãos, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do diretor da clínica, decisão confirmada pela Justiça e com cumprimento realizado na manhã desta quinta. Ao chegar na instituição, Camila Brito afirma que a estrutura do local deixou a equipe policial "consternada".
"O local não tinha nenhuma condição física de estar com aquelas 33 mulheres ali. Eram quartinhos parecidos com celas, minúsculos, cubículos. E elas ficavam trancadas de cadeado. O local era fétido, tinha mau-cheiro, não tinha ventilação, havia restos de comida dentro de baldes espalhados, cinco cachorros de médio porte, porcos. Realmente, uma situação lamentável que deixou toda a equipe consternada", disse.
Segundo a delegada, com relação aos crimes de cárcere privado e maus-tratos, o suspeito disse que "o local era apropriado para elas porque elas tinham problemas psicológicos e tinham que ficar presas".