“Nós temos uma tarefa muito delicada. Vamos pegar o país pior do que nós pegamos em 2003. Vamos pegar o país com uma coisa mais grave: a tentativa do desmonte e do descrédito das instituições”, disse, em evento com a sociedade civil brasileira na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm El-Sheikh, no Egito.
Lula ainda criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL), ao declarar que, em quatro anos, o presidente “derrotado” não fez encontros com a sociedade civil, mas ofendeu mulheres, periferias, negros, quilombolas e pessoas com deficiência. “Ele tentou fazer o que pôde para ofender e tentar desmoralizar”, avaliou o petista.
Antes de falar, Lula ouviu representantes da sociedade civil, na seguinte ordem: Cíntya Feitosa, do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e coordenadora do Brazil Climate Action Hub; Márcio Astrini, do Observatório do Clima; Thuane Nascimento, do Perifa Connection; Douglas Belchior, da Uneafro e Coalizão Negra por Direitos; Puyr Tembé, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib); Adalberto Val, cientista da Amazônia há 42 anos; e Bárbara Gomes, do Engajamundo.
“A agenda de clima, há muito tempo, não é mais uma agenda apenas de ciência, de números e de negociações diplomáticas. A agenda de clima também é uma fábrica de gerar desigualdade, problemas e pobreza para o povo. A gente corre o risco, daqui a pouco, de dar uma casa no Minha Casa Minha Vida, e a chuva tirar duas”, assinalou Astrini.
Na fala da sociedade civil, a futura primeira-dama do país, Rosângela Silva, a Janja, também foi bastante elogiada.
No discurso, Lula prometeu que irá retomar as conferências nacionais para ouvir a população. “Vamos às conferências nacionais para que o povo decida qual é a política pública correta para colocar em prática. Vamos fazer uma conferência da juventude, para que ela diga o que ela quer. Vamos fazer uma conferência das pessoas com deficiência, do povo negro, da mulher, dos LGBTs”, sinalizou o presidente eleito.
Lula chegou a Sharm El-Sheikh na madrugada desta terça-feira (15/11) pelo horário local (noite de segunda-feira, 14/11, em Brasília). Ele viajou à cidade-sede da COP27 em um jatinho do empresário José Seripieri Junior, fundador da Qualicorp e delator na Lava Jato.
O petista foi convidado publicamente pelo presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, para participar do evento climático.
Na terça, Lula teve encontros bilaterais com autoridades do clima dos Estados Unidos, da China e da Espanha. Ele também dialogou com o presidente do Egito e se reuniu com senadores que participam da COP27, incluindo o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com quem conversou reservadamente.
Na quarta-feira (16/11), Lula compareceu a um evento com governadores da Amazônia. O presidente eleito disse que vai pedir ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que a COP30 seja realizada no Brasil, mais especificamente na Amazônia. O evento ocorrerá em 2025.
Guterres e Lula se reúnem nesta quinta.
Mais tarde, Lula falou na “blue zone” da COP, onde ocorrem as negociações. O presidente eleito enfatizou que seu governo vai priorizar o combate às mudanças climáticas, cobrou recursos de países ricos e propôs uma aliança global pelo fim da fome. “Nós precisamos de uma governança global, sobretudo na questão climática. Precisamos de um fórum multilateral para que as decisões sejam cumpridas nos países. É por isso que estou aqui”, destacou.
Após se reunir com Guterres e com representantes da sociedade civil brasileira, Lula se encontrará com o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide; com a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annelena Baerbock; e com representantes do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.